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5 de ago. de 2011

Qualidade no ar e a segurança no trabalho - Síndrome do Edifício Doente (SED)

Por que é importante a qualidade do ar para a segurança no trabalho?
Para as empresas, o controle da qualidade do ar é fundamental, pois as condições ambientais desfavoráveis podem tornar-se uma grande fonte de tensão na execução das tarefas, em qualquer situação de trabalho. Estes fatores podem causar desconforto, elevado número de absenteísmo, temperamento alterado, insatisfação e baixo rendimento no trabalho, além de aumentar o risco de acidentes, custos e causar danos consideráveis à saúde dos funcionários.
Existe uma grande associação entre conforto ambiental e sintomas entre trabalhadores expostos a ambientes fechados, ou seja, ambientes com ventilação e climatização artificiais. Estudos revelaram que os ocupantes desses recintos apresentavam um alto percentual de sintomas persistentes, de menor ou maior gravidade, tais como: alergia, dor de cabeça, irritação nos olhos e das mucosas, dores de garganta, tonturas, náuseas e fadiga em geral, não atribuíveis a fatores pessoais de sensibilidade ou doença, e que desaparecem pouco tempo depois da saída do recinto, ficando evidente que os sintomas estavam relacionados com as condições ambientais do local em questão.
É evidente que em ambientes confinados, com pouca ou nenhuma renovação do ar, o mesmo torna-se rapidamente desagradável e até irrespirável, devido à acumulação dos poluentes gerados internamente, que não têm como ser eliminados ou suficientemente diluídos, porque esses locais não possuem janelas para obter a renovação do ar. É também fato conhecido a facilidade com que as doenças respiratórias podem ser transmitidas por um único doente nesses locais, usando como veículo o próprio duto de ar-condicionado.
 
Quando começou a surgir a preocupação com a qualidade do ar no ambiente de trabalho?
A evolução dos sistemas de ar-condicionado, com suas centrais e dutos espalhados pelas industriais, hospitais, escritórios, estabelecimentos públicos e comerciais, e depois nas edificações hermeticamente fechadas, etc, trouxe um novo problema, então despercebidos pelos usuários e fabricantes: a proliferação de doenças no ambiente através do próprio sistema de ar condicionado central e que vem sendo nos últimos anos assunto de preocupação mundial devido ao aparecimento de um alto percentual de pessoas doentes em recintos com ar-condicionado central.
A evolução do homem, também contribuiu, pois em poucas décadas, mudou radicalmente o seu estilo de vida e a forma de se relacionar com o meio ambiente. As atividades produtivas do homem, que durante séculos ficaram alicerçadas em trabalhos manuais, quer sejam voltadas para a agricultura ou não, multiplicaram-se com o avanço tecnológico nas diversas áreas do conhecimento científico. Começaram a surgir as grandes cidades e pólos industriais. Grande parte das atividades do homem passou a ser realizada em ambientes confinados, atividades essas que são exercidas em jornadas cada vez mais extensas.
Após a década de 80, um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), relacionado com a saúde ocupacional, apresentou dados que demonstram que a qualidades das construções interferem na saúde e bem-estar de seus ocupantes.
De fato, nos dias atuais, e cada vez mais intensamente, passamos grande parte das nossas horas produtivas em ambientes confinados, afastados da iluminação e ventilação natural. Essa situação traz riscos à saúde humana, principalmente se a edificação não tiver sido bem projetada, adaptada às necessidades humanas e mantida por um bom programa de manutenção predial.
 
O que é a Síndrome do Edifício Doente (SED)?
Em 1982, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu a Síndrome do Edifício Doente (SED), caracterizada pelo aumento da prevalência de sintomas pouco específicos, como mal-estar, sensação de fadiga, dor de cabeça, espirros, lacrimejamento e ardor nos olhos, coriza, tontura, tosse seca e alterações na pele. Um edifício é classificado doente quando cerca de 20% de seus ocupantes apresentam alguns destes sintomas em decorrência do tempo de permanência em seu interior. São sinais que tendem a desaparecer após curtos períodos de afastamento.
Outros fatores associados à SED são: a elevada taxa de absenteísmo e a redução na produtividade e qualidade de vida do trabalhador, diante de sua exposição a um ambiente inadequado à ocupação (INMETRO, 2003). .
 
Quais são as causas que levam à SED?
A SED é causada por vários fatores que atuam cumulativamente. Os fatores considerados de risco que contribuem para o desenvolvimento desta síndrome são:
  • Fatores pessoais, como: estresse, falta de controle sobre o ambiente, trabalho estático e repetitivo. Entre eles pode-se destacar que os funcionários que possuem uma rotina de trabalho sedentário são mais sensíveis as condições ambientais, porque eles tenderão a questionar mais sobre isso e aceitarão menos as condições desconfortáveis do que os funcionários que executam atividades mais dinâmicas. Além disso, quando as pessoas têm algum controle sobre as condições ambientais, como iluminação, ventilação e temperatura elas são mais tolerantes a ambientes de baixa qualidade.
  • Fatores físicos e ambientais, por exemplo: ar interior com baixa qualidade, iluminação, temperatura e ruído.
  • Fatores de projeto, entre eles: baixo pé-direito, grandes áreas de planta livre, falta de luz natural, projeto luminotécnico de baixa qualidade. As decisões tomadas na fase do projeto arquitetônico podem atuar de maneira crucial na presença ou não da SED, tanto no que diz respeito ao projeto do edifício, do layout interno e dos chamados projetos complementares (projeto de iluminação, projeto do sistema de ar condicionado...).
  • Fatores organizacionais, como: gerenciamento e manutenção de baixa qualidade. A manutenção é indispensável para o bom funcionamento do prédio.
 
Quais os agentes ou fatores que contribuem para a SED?
A SED provém basicamente de quatro fontes principais:
  • Biológica – bactérias, fungos, vírus e substâncias produzidas por esses agentes;
  • Química – monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio (combustão de gases e cigarros), formaldeídeo (preservação de tecidos e mobiliários), ozônio (foto copiadoras);
  • Inertes respiráveis particulados - microfibra de amianto, lã de vidro, fibras naturais, poeira/pólen;
  • Estruturais – porcentagem de renovação de ar, má distribuição do ar, umidade do ar, iluminação inadequada, ruídos, controle deficiente da temperatura, projeto inadequado, modificações inadequadas após a construção, falta de manutenção e de limpeza nos sistemas, falta de compreensão do funcionamento do sistema.
Em ambientes industriais, conhecem-se, a priori, os componentes químicos utilizados, como a matéria-prima, os subprodutos e o produto final, sendo possível, assim, identificar os poluentes, evidenciar os agravos à saúde decorrentes destes e apontar as possíveis medidas de prevenção.
Nos ambientes industriais aclimatados artificialmente encontram-se outras fontes de contaminação que contribuem para a formação da má qualidade do ar interior, e que podem ser devidas a ventilação inadequada, contaminação interior (fumaça de cigarro, efluentes do corpo, emissões químicas dos móveis, equipamentos e materiais de limpeza, cortina, carpete), contaminação exterior (qualidade do ar, veículos, emissões industriais), contaminação microbiológica (bactérias, fungos) e material de construção.
 
Quais os principais riscos observados nas edificações?
Imediatamente após o processo de ocupação, a emissão de poluentes, a partir dos materiais de construção e mobiliário, libera grandes quantidades de vapores danosos e dispersão acentuada de material particulado, causando problemas na qualidade do ar. Este período ocorre nos primeiros 6 a 12 meses.
Com o passar do tempo, o envelhecimento dos equipamentos, o desbalanceamento do sistema do ar condicionado, acúmulo de pó nos mobiliários e acabamentos de interiores, bem como, acúmulo de sujeira nos filtros, nos dutos e outras partes dos equipamentos, propiciam a emissão de outros poluentes também agressivos à saúde.
 
Quais são as doenças e sintomas relacionados com Síndrome dos Edifícios Doentes?
  • Doença semelhante à gripe ou resfriado comum;
  • Tuberculose;
  • Rinite, asma, sinusite;
  • Urticária de contato;
  • Edema da laringe;
  • Dermatite;
  • Irritação do trato respiratório inferior e superior;
  • Irritação dos olhos;
  • Garganta seca;
  • Dores de cabeça, musculares, articulares, no peito;
  • Fadiga;
  • Congestão nasal;
  • Tonturas e náuseas;
  • Falta de ar;
  • Vômitos;
  • Diarréia;
  • Febre alta;
  • Mal-estar generalizado;
  • Tosse com expectoração;
  • Perda de apetite;
  • Claustrofobia.
Observa-se, então, que as causas da SED não são apenas múltiplas, mas cumulativas. O que aumenta o risco é a combinação dos fatores, adicionados ao nível de estresse das pessoas que estão tentando realizar seu trabalho.
 
Quais são as normas que fiscalizam a qualidade do ar das empresas?
A Instrução Normativa 01 (1994) do Ministério do Trabalho e Emprego estabelece que no caso de “ameaça à vida ou à saúde do trabalhador”, o Agente da Inspeção do Trabalho poderá requerer a interdição do estabelecimento ou embargo da obra. Isto conforme NR-01 e 03 da Portaria Ministerial MTB nº 3.214/78, devendo o Auto de Infração indicar que o empregador está expondo a vida ou a saúde do trabalhador a perigo direto e iminente (art. 132 do Código Penal).
A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou a Portaria n° 3.523 de agosto de 1998, estabelecendo um regulamento técnico contendo medidas básicas referentes aos procedimentos de verificação visual do estado de limpeza, remoção de sujidades por métodos físicos e manutenção do estado de integridade e eficiência de todos os componentes dos sistemas de climatização, para garantir a Qualidade do Ar de Interiores e a prevenção dos riscos à saúde dos ocupantes de ambientes climatizados.
A Portaria exige, também, que todos os ambientes climatizados artificialmente de uso público e coletivo elaborem e mantenham um plano de manutenção, operação e controle dos sistemas de ar condicionado (BRASIL, 2003).
Com o objetivo de criar critérios que avaliassem a adequação dos procedimentos adotados pelas empresas de manutenção dos estabelecimentos, a ANVISA publicou, em outubro de 2000, a Resolução n° 176 que contém os parâmetros biológicos, químicos e físicos através dos quais é possível avaliar a qualidade do ar interior (BRASIL, 2003). E, em janeiro de 2003, a ANVISA publica a Resolução n° 9 que contém a orientação técnica revisada daquela publicada anteriormente.

O que fazer para evitar a SED?
É imperativa a segregação de áreas de fumantes, pois além dos malefícios que o tabagismo provoca ao fumante ativo e ao fumante passivo, este é considerado um dos mais potentes poluentes de interiores, promovendo a dissipação de grande quantidade de matéria particulada, de dióxido de nitrogênio (NO2) e de vários outros compostos químicos.
As próprias pessoas trazem para o ambiente uma grande carga de poluição que está presente na pele, nas vestimentas, nos cabelos, no simples ato de respirar. Obviamente não seria possível eliminar todas as fontes de poluição, mas é necessário identificar, em alguns procedimentos corriqueiros, formas de minimizar a geração de poluentes.
Quanto ao impacto do sistema de ventilação na Qualidade do Ar Interno - QAI é essencial que o sistema de ventilação e ar condicionado seja mantido nas condições ideais de funcionamento especificadas, e, que seja periodicamente limpo para prevenir que contaminantes sejam distribuídos por todo o sistema.
Em geral a temperatura do ambiente dos sistemas de ar-condicionado para conforto deve manter-se em torno de 22ºC a 24ºC. Conforme estudos realizados, há uma perda da eficiência humana de 1,8% para cada grau de aumento da temperatura ambiente acima de 24ºC. Há também estudos que indicam que acidentes de trabalho aumentam na proporção em que o conforto térmico do ambiente diminui.
Os ambientes de conforto devem apresentar umidade em torno de 50%. Valores acima ou abaixo, além do desconforto, podem provocar problemas nas vias respiratórias e favorecimento ao crescimento de microorganismos. Deve-se ficar atendo ao controle de sistemas com umidificação. Deve-se verificar também os níveis elevados de materiais particulados, que revela a limpeza dos ambientes climatizados, a pureza do ar, podendo representar problemas com os dispositivos de filtragem do ar.
O surgimento de bactérias, fungos e protozoários em qualquer parte do sistema que acumule água, a exemplificar as bandejas de condensados e umidificadores, devem ser devidamente checados. Os isolamentos térmicos, paredes e pisos existentes em locais úmidos (casas de máquinas) devem receber especial atenção para não abrigar fungos.
Recomenda-se a instalação de portas de inspeção nos dutos de distribuição de ar a fim de verificar seu estado de limpeza e integridade. A instalação deve prevenir o acesso de animais (roedores, insetos, etc.) no interior dos dutos.
A velocidade do ar deverá estar dentro da faixa recomendada para não provocar vibrações, ruídos e desconforto aos ocupantes dos ambientes.
Cabe ressaltar que os sistemas de ar condicionado são, em si, inertes. Os problemas com a qualidade do ar interno (QAI), em ambientes climatizados, provêm de falhas de projeto, operação inadequada ou manutenção deficiente dos equipamentos.
Com relação às demais medidas, destacamos o cumprimento das legislações: Portaria nº 3523, de 28 de agosto de 1994 e a Resolução nº RE-176, de 24 de outubro de 2000.
Em resumo, os dados mostram que a Qualidade do Ar Interior é o principal problema da SED e está intimamente ligada à climatização artificial do ambiente, de onde se conclui que projetos que buscam alternativas de dotar a edificação de ventilação natural ou minimizar a necessidade de ar-condicionado através da redução da carga térmica e dos efeitos do aquecimento externo são desejáveis. Uma maior competência no ato de projetar poderia reduzir significativamente as ocorrências da SED no Brasil e no mundo.
Deve-se destacar, também, a importância de se investir mais na educação em saúde, como um instrumento eficaz no processo de conscientização e na luta contínua para tentar diminuir os agravos à saúde decorrentes dos fatores de riscos gerados pela exposição de poluentes no ar interior.
 
Veja mais sobre este assunto:
Considerações sobre estudos de ambientes industriais e não industriais no Brasil: uma abordagem comparativa  www.scielo.br/pdf/csp/v19n5/17811.pdf

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